Outros arranjos sociotécnicos para a produção de outra política, a política do comum

Território, resistência, gentrificação, racismo, violência, cuidado, militarização, vigilância, organização coletiva, assimetria, invisibilidade. Estas são apenas algumas das dimensões para pensar a complexidade dos conflitos entre o capital e a vida nas grandes metrópoles. Em um contexto de neoliberalismo ascendente, como o que vive o Brasil, o modelo de cidade que privilegia o lucro, a segurança e o bem-estar de alguns, em detrimento dos direitos de todos, impõe dinâmicas cada vez mais excludentes, diante das quais novas formas de resistir são produzidas.
Henrique Parra, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo e membro da Rede Latino-americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (LAVITS), e Alana Moraes, pesquisadora do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ), estão olhando para estas velhas e novas resistências, em um novo trabalho que tem como foco o bairro Campos Elíseos, na região central da capital paulistana.
O projeto está acompanhando um conjunto de iniciativas que acontece neste território, circunscritas nesta disputa de um modelo de sociedade e de vida, que envolvem há tempos um forte processo de expulsão e remoção de moradores da região, fruto de um intenso processo de revitalização e controle sobre o espaço urbano.
De acordo com Parra, a ideia é olhar para os atores sociais que atuam neste cenário e refletir sobre os modos de produção de outras experiências de vida, além de pensar no desenvolvimento de arranjos sociotécnicos do que ele e Moraes estão chamando de um laboratório da política do comum. Desta perspectiva, a política do comum dialoga com um processo de integração entre cidadãos e o território, fortalecendo formas de vida que estão sob ameaça.
“Nós estamos propondo um deslocamento de uma visão de conhecimento e ação que é um saber-poder-governar para uma ideia de um saber-fazer-habitar. Esta ideia é sobre formas de coabitação, justamente em uma perspectiva de resistência”, relata o pesquisador.
“Umas das coisas que chama a nossa atenção é como muitas questões e dimensões sociais são invisibilizadas nesse conjunto de ações que acontece no território. Partindo deste entendimento, como nós podemos pensar em ações que reconheçam, por exemplo, as dimensões raciais destes conflitos?”, questiona Parra.
Para ele, a política do comum é uma proposta potente e ganha centralidade nesta reflexão por envolver tanto uma economia política, de produção de vida, quanto uma ética, estando baseada no que ele nomeia como uma ontologia da relação.
Além disso, Parra acredita que refletir sobre o comum ajuda a sociedade a se desfazer de dicotomias hierárquicas e hierarquizantes de desigualdades diversas. “Pensar o comum nos ajuda a superar um conjunto de dicotomias entre o que é a vida privada e a vida pública, o que é o mundo do trabalho e o que não é, permitir que a gente pense sobre a reprodução da vida e a produção”, encerra.

As reflexões foram apresentadas no No VI Simpósio Internacional LAVITS, realizado entre os dias 26 e 28 de junho, na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Esta edição do Simpósio – promovido pela Rede Latino-americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (LAVITS), pelo Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC/ UFBA) e pelo Grupo de Pesquisa em Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura (GIGA/ Facom/ UFBA) – se propôs a debater Assimetrias e (In)Visibilidades: Vigilância, Gênero e Raça, na ocasião em que a Rede LAVITS completa dez anos.

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