Laboratório do Comum Campos Elíseos: Desenhar a pesquisa e organizar xs coletivxs

Texto originalmente publicado no site do Pimentalab

 

Memória: ponto de partida

Em nosso último encontro tivemos uma discussão sobre as dinâmicas da securitização/militarização/vigilância do território assim como as novas formas de extração de valor via plataformas (como airbnb, quinto andar, ifood); Discutimos também algumas questões específicas sobre economia local, as relações estreitas entre legal-ilegal na produção de novos espaços de exclusão assim como novos consórcios público-privado de gestão do espaço, as formas de produção biopolíticas de subjetivação do medo e de individualização que degradam o tecido de confiança e nos fazem dependentes de dispositivos privatizadores/expropriadores da vida coletiva.

Problematizamos como o Comum é ameaçado continuamente, mas também algumas possibilidades de criação/retomada do Comum, sua visibilidade e sustentação. A partir dessa discussão, foram criados 4 coletivxs investigativistas conduzidos por 4 grandes temas. Suas fronteiras são muito frágeis, muitas coisas transbordam e transitam de um para o outro e pensar sobre essas fronteiras e seus trânsitos também nos pareceu importante.

Arquivo com a sistematização do material produzido nos painéis craft: https://trama.pimentalab.net/wp-content/uploads/2019/10/transcricao-crafts-dinamica-formacao-grupos-dia3.pdf

Próximo passo: desenhar a pesquisa

Nosso desejo é que possamos iniciar uma experiência de pesquisa coletiva, trabalhando em grupos menores, onde podemos criar uma conversa-escuta mais atenta, e também construir formas de colaboração entre os grupos, de maneira a criar sinergias e evitar o desperdício da experiência. Os 4 grupos constituídos são trilhas de investigação sobre o Comum, cada qual abordando uma perspectiva mais específica.

Entendemos que este primeiro passo é sobretudo um momento de nos conhecermos melhor, cultivar nossos laços e buscar reconhecer os recursos e as potências do existente: tanto o que cada um aporta, como o que cada um conhece no/sobre o território.

Nesta primeira aproximação, sugerimos que os grupos pensem boas perguntas que sirvam como fios condutores da ação de investigação no sábado. Boas perguntas são também boas formas de nos relacionarmos com pessoas no território,com formas mais abertas de produzir conhecimento. Outras pesquisas podem ser feitas virtualmente: levantamento de dados e cartografias que ja existem sobre o tema, por exemplo, textos, documentos, videos, etc.

Para o sábado, seria importante que o grupo pense um lugar, uma região específica do território que possa ser melhor observada. Pode ser uma caminhada coletiva também. Para esse dia, seria importante pensar as formas metodológicas de conduzir a investigação: conversas, entrevistas, observações, visitas, uma série de imagens ou vídeo, uma instalação ou performance que chame as pessoas para falar sobre algo, etc.

É muito importante que o grupo pense nas formas de documentar o processo para que possa existir uma conversa entre os materiais produzidos por todos os grupos posteriormente.

Como o tema de cada grupo é muito amplo surgirão dúvidas sobre qual recorte fazer. Por exemplo, no tema Saúde-Cuidado é possível que tenha gente que deseje investigar a saúde mental, enquanto outrxs prefiram investigar as ameaças de violência física que produzem riscos de vida. Não é necessário que todxs trabalhem sobre o mesmo “objeto”, o importante é que cada grupo seja capaz de construir um problema (uma boa pergunta) e uma forma de investigar que seja compartilhado entre todxs. O principal objetivo nesta fase é aprender a seguir e investigar juntxs e a construir formas de produção de inteligência coletiva.

Uma boa maneira de iniciarmos uma investigação sobre o Comum é elegermos algo bem delimitado e que parece “pequeno” ou “desimportante”. Muitas vezes, nossa melhor contribuição é encontrar uma forma sensível e intelegível de dar existência a algum aspecto negligenciado de nossas vidas.

Alguns exemplos:
(1) Vizinhança: o projeto Escalera (“escada” em espanhol), criado por Rosa Jiménez, em Madrid, nasce de uma uma investigação sobre as relações/vínculos entre moradores de um edifício: https://pimentalab.milharal.org/2017/10/17/escalera/

(2) Silêncio: Essa semana, ficamos intrigados com o canto do sabiá, que está cantando no meio da noite, muito antes do nascer do sol. Essa reportagem trata da mudança dos hábitos do sabiá em São Paulo: https://outraspalavras.net/outrasmidias/em-sp-a-incrivel-insonia-do-sabia-laranjeira/

O problema, evidentemente, é o barulho da cidade (sobretudo do trânsito). O silêncio é um Comum que nos é subtraído. Seguindo a investigação encontramos esse mapa de ruídos do centro de São Paulo: http://www.mapaderuidosp.org.br/mapa-de-ruido/mapa-piloto-sp/mapa-online-2018/

(3) Bens Comuns : http://laaventuradeaprender.intef.es/guias/ciencia-ciudadana

(4) Circuitos da precariedade feminina: https://www.traficantes.net/sites/default/files/pdfs/A%20la%20deriva-TdS.pdf

(5) Algumas reflexões sobre investigação-militante: https://www.traficantes.net/sites/default/files/pdfs/Nociones%20comunes-TdS.pdf

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