Tharsila Fariniuk indica referências sobre a relação entre hacktivismo, territorialidades e smart cities

No começo do mês, a pesquisadora e professora Tharsila Fariniuk apresentou os resultados da pesquisa de pós-doutorado intitulada “Movimento civic hacking no Brasil: cidadania ativa e instrumentação digital no contexto das smart cities”. Realizada entre os anos de 2018 e 2021, a investigação teve origem em um projeto maior de pesquisa – envolvendo a PUCPR e Durham University, sob coordenação dos professores Rodrigo Firmino e Andres Luque-Ayala, respectivamente.

A pesquisa partiu da consideração do hacktivismo enquanto prática de atuação cidadã sobre os meios digitais, que surge com a ascensão da sociedade de plataforma em que narrativas e territorialidades são definidas e redefinidas por meio de algoritmos. O estudo visou analisar teórica e conceitualmente o movimento civic hacking no Brasil de forma panorâmica, a partir da diferenciação de origens, tipologias e objetivos dos grupos na transformação dos ambientes urbanos mais inteligentes. A investigação resultou na elaboração de um modelo interpretativo que pontua as categorias estudadas em um a abordagem flutuante e flexível. Nesse contexto a prática hacker emerge como algo além da quebra, modificação e revolução de códigos e funcionalidades, somente, e passa a figurar como forma de subversão da utilização tradicional do meio digital como mera ferramenta de comunicação, em consideração às demandas de contexto. Observou-se, ainda, que na atividade hacktivista permanece a lógica de um “sistema a ser invadido”, no qual a cidade torna-se um organismo vivo, “hackeável”, em um processo que – tal qual o entendimento tradicional do conceito hacker – é empírico e iterativo.

Fariniuk preparou para a Lavits uma lista com indicações e referências sobre o tema da pesquisa.

 

  1. Sobre o conceito de smart city, a relação entre humanos e um espaço cada vez mais tecnológico e um novo modelo de conhecimento sobre a cidade e sobre como o espaço urbano é instaurado, utilizado e construído, recomendo minha tese: A construção multifacetada do conceito de Smart City : o panorama brasileiro e o caso de Curitiba, Paraná. Disponível em:    http://www.biblioteca.pucpr.br/pergamum/biblioteca/index.php?codAcervo=341816&_ga=2.223361499.1738566072.1619629378-1736368728.1613845948
  2. Sobre a configuração de territórios informacionais enquanto processo político de atuação sobre o urbano, a partir da construção de mapeamentos colaborativos e práticas similares, recomendo o texto de Andres Luque- Ayala e Flávia Maia, intitulado “Digital territories: Google maps as a political technique in the re-making of urban informality” LUQUE-AYALA, A., MAIA F. N. Digital territories: Google maps as a political technique in the re-making of urban informality. Environment and Planning D: Society and Space, 2019, v.37, n.3, p.449-467 Disponível em: https://doi.org/10.1177/0263775818766069 
  3. Para entender de modo panorâmico os processos de ativação digital traduzidos na colaboração e na ação por meio de plataformas digitais, recomendo a tese da pesquisadora Marina Morais, apresentada à Universidade Nova de Lisboa em 2018.
    MORAIS, M. M. de. Net-Ativismo e Ações Colaborativas nas Redes Sociais Digitais. Tese de doutoramento em Ciências da Comunicação. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Lisboa, 2018.
  4. Para compreender melhor o processo histórico de estruturação das ações hacker, recomendo a leitura da obra “Para além das máquinas de adorável graça”, publicação de 2018 do jornalista e cientista social Rafael Evangelista. Na obra, o autor apresenta os processos de consolidação da cultura hacker no Brasil e de que maneira essa mobilização em torno da tecnologia permitiu o engajamento de grupo em práticas colaborativas e de conhecimento compartilhado, constituindo assim novos modos de entendimento da democracia de plataforma.
    EVANGELISTA, R. Para além das máquinas de adorável graça. São Paulo: SESC, 2018.
  5. Para entender melhor de que maneira se dá a lógica distributiva dos processos de inovação entre esses grupos, recomendo o texto de Luís Carvalho e de Catarina Maia, de 2016, intitulado “Civic entrepreneurs and smart cities: practices, motivations and innovation geographies”. Na publicação, os autores discutem a geografia da inovação sustentada por fatores de proximidade territorial, timing e assincronicidade permitida nos meios digitais.
    CARVALHO, L.; MAIA, C.. Civic entrepreneurs and smart cities: practices, motivations and innovation geographies. GOT, Porto , n. 10, p. 95-112, dez. 2016 . Disponível em: http://dx.doi.org/10.17127/got/2016.10.005
  6. Por fim, para refletir mais especificamente sobre os elementos que estruturam as categorias de atuação civic hacking apresentadas no estudo, vale a pena conhecer a pesquisa-manifesto de Cristina Ampatzidou e colaboradores – publicada em 2015 – sobre este movimento. Na publicação os autores tipificam a atuação dos ativistas digitais segundo níveis de engajamento, a partir de um survey realizado entre mais de 80 projetos e iniciativas.
    AMPATZIDOU, C. BOUW, M.; VAN DE KLUNDERT, F.; LANGE, M; DE WAAL, M. The hackable city: a research manifesto and design toolkit. Knowledge Mile: Amsterdam, 2015.
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