Stefania Milan publicou recentemente “Big Data (a partir) do Sul: O começo de uma conversa necessária”, em parceria com Emiliano Treré, como uma convite para fomentar o debate sobre Big Data por meio de estudos coletivos sobre o papel e o impacto que ele tem no Sul Global. O documento resume as discussões e aponta para possíveis desdobramentos do evento ‘Big Data from the South: From media to mediations, from datafication to data activism’, uma conferência realizada em Cartagena (Colômbia) com foco no questionamento da mitologia e do universalismo da ideia de “datificação” com base em uma epistemologia a partir do Sul.
Em trabalhos recentes, a pesquisadora do DATACTIVE Project e professora Novas Mídias e Culturas Digitais na Universidade de Amsterdam, afiliada também com a Universidade de Oslo, formulou o conceito de data ativismo e empregou-o em um estudo de caso sobre o InfoAmazônia, que fornece análises e notícias sobre as mudanças ambientais na maior floresta tropical do planeta.
O data ativismo tem como característica marcante “a forma pela qual trata o Big Data tanto como meio quanto como fim de sua luta”[1]. Nesse sentido, Milan identifica o data ativismo como uma nova fronteira do mídia-ativismo, na medida em que “se apropria da inovação tecnológica para propósitos políticos.”[2]
A partir dessa definição, a autora escreveu um texto[3], em coautoria com Miren Gutierrez, no qual elas dividem o data ativismo em duas frentes: a proativa e a reativa. Enquanto a primeira é composta por cidadãos que se valem das possibilidades do Big Data para embasar propostas políticas e mudança social, a segunda diz respeito a esforços de proteção e resistência contra a coleta massiva de dados e intervenção política. A InfoAmazônia, enquanto rede de jornalistas e organizações que oferecem atualizações sobre a situação e ameaças ambientais, é classificada pelas pesquisadoras como um exemplo de data ativismo proativo.
“A InfoAmazônia e a emergência de organizações similares anunciam a chegada de formas sem precedentes de considerar e explorar a infraestrutura de dados tendo em vista a mudança social. Apenas o futuro dirá se isso é de fato uma nova, promissora e sustentável base para o ativismo latino-americano conectar atuação política com dados e tecnologia.”
Esse trabalho é apontado por Milan e Treré no texto sobre o evento em Cartagena como “uma das muitas possíveis formas de se ‘virar de cabeça para baixo’ o que sabemos sobre datificação”. Tanto a contraposição à processos que dilaceram a opressão e as assimetrias quanto práticas para a mudança social são apontadas como possibilidades para “concretizar a transição da datificação ao ativismo de dados”.
5º Simpósio Internacional Lavits: “Vigilância, Democracia e Privacidade na América Latina: vulnerabilidades e resistências”
Conferência de abertura: Stefania Milan
Gratuito e aberto Foto: networkcultures/flickr licenciado sob Creative Commons – Atribuição 2.0 Internacional (CC BY-NC-SA 2.0) |
[1] Milan, Stefania, Data Activism as the New Frontier of Media Activism. Em “Media Activism in the Digital Age”, Escrito em 2016 e editado por Goubin Yang e Viktor Pickard, Routledge (2017). Disponível em SSRN: https://ssrn.com/abstract=2882030
[2] Idem.
[3] Gutierrez, Miren and Milan, Stefania, Technopolitics in the Age of Big Data: The Rise of Proactive Data Activism in Latin America. 2017. A ser publicado em breve sob o título ‘Networks, Movements & Technopolitics in Latin America: Critical Analysis and Current Challenges’, editado por F. Sierra Caballero e Tommaso Gravante. Disponível em SSRN: https://ssrn.com/abstract=2935141