Lavits desenvolve game sobre vigilância e uso de dados pessoais

Pesquisadores da Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (LAVITS) e da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) estão desenvolvendo um jogo para celulares que discute a proliferação de câmeras em áreas públicas e o uso econômico de dados pessoais. Batizado de DIO, o game promove um mapeamento colaborativo da localização geográfica destes dispositivos.

A equipe trabalha no jogo há um ano. Na primeira fase foram criados o enredo e a jogabilidade, e, atualmente, o game está em fase de design e desenvolvimento. A previsão é de que um protótipo esteja disponível ainda neste semestre.

A ideia de criar o DIO surgiu da análise do trabalho de prospecção e inteligência coletiva observado em games de mapeamento e realidade aumentada. “Pensamos em expor o processo de ponta-cabeça, usar a inteligência coletiva para discutir vigilância”, afirma o pesquisador da Lavits e da Unicamp, Rafael Evangelista.

 

Enredo: tecnologia de vigilância global é criada, mas algo sai errado

Na história, os jogadores estarão imersos em um cenário que se passa em um futuro próximo. Por meio de uma parceria público-privada, governos e empresas desenvolvem uma tecnologia, um protocolo que permite a integração das câmeras de vigilância espalhadas pelas cidades, batizado de Digital Information Operative, o DIO. Tais dispositivos são utilizados para controle social e o terrorismo é apresentado como principal argumento.

Porém, algo sai errado e DIO, uma poderosa inteligência artificial, se mostra incontrolável. Com todas as câmeras integradas, é impossível retirá-las da rede e tudo fica disponível online em uma espécie de deep web. Grupos de resistência – os jogadores — passam a lutar contra esse sistema. Eles podem escolher duas facções diferentes para atuar: o grupo Blind, que acredita que é preciso cegar todas as câmeras, e o Lens, que procura restaurar o controle das câmeras para os seus donos originais.

Para isso, os jogadores precisarão andar pelas cidades, localizando as câmeras públicas e privadas, e “batalhando” pelo controle delas. Só é possível realizar interação com a câmera se o jogador estiver fisicamente próximo ela.

 

Reflexão sobre espaços vigiados

O objetivo é que o jogo seja de uso cotidiano dos usuários, para que a circulação das pessoas por espaços vigiados por câmeras seja contabilizável e acessível aos jogadores. Desta forma, pretende-se dar visibilidade e discutir a presença e o uso desses equipamentos, dando ênfase em como a circulação no dia a dia é objeto dessa vigilância.

A equipe de pesquisadores apresentará o artigo “DIO: um jogo em dispositivos móveis para mapear câmeras de vigilância” no congresso Society for Social Studies of Science)/EASST Conference, conhecido como 4S, que ocorrerá em Barcelona, na Espanha, no final de agosto.

Depois de pronta, a plataforma será liberada como software livre para que outros grupos possam utilizar o código como base e criem jogos com temáticas diferentes. O game é desenvolvido dentro do projeto “Rede Latino-­Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade: interseções entre pesquisa, ação e  tecnologia”, com financiamento da Fundação Ford.

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