A professora da Universidade de Amsterdã, Stefania Milan, abriu o 5º Simpósio Internacional Lavits hoje (29/11) com uma conferência na qual compartilhou um pouco do seu trabalho em conjunto com o DATACTIVE. Segundo Milan, a atuação do grupo se guia principalmente pelos questionamentos “Por que investigamos? Com quem investigamos? Para quem investigamos?”.
As investigações do DATACTIVE se desenvolvem a partir da noção de “datificação”, que segundo Milan se trata de “uma mudança fundamental de paradigma para a nossa sociedade que tem consequências importantes para a participação cidadã, o ativismo e também para as pesquisas”.
O trabalho com os dados ajuda a construir memória, o que me parece que sempre foi muito importante na América Latina, constrói uma narrativa diferente da dominante. Quando as mães militantes dos direitos humanos tentam reconstruir a história de suas famílias também se trata de ativismo de dados.
Para Milan, essa mudança traz consigo três problemas muito grandes. São eles:
- “Muitas táticas de vigilância são dirigidas ao indivíduo e a luta contra a vigilância deve ser coletiva, de todos e de todas.”
- “O segundo problema é a linguagem que usamos para falar de vigilância. Usamos palavras para designar adversários que são de origem militar e as mesmas usadas pelas empresas. Isso nos subtrai a oportunidade de encontrar aliados.”
- “O terceiro problema é a criação de espaços de atuação alternativos, temos que tomar isso como uma questão séria.”
Por último, Milan destacou a importância de se colocar as pesquisas “a serviço da atuação em sociedade”. A partir do seu trabalho recente redigido em conjunto com Emiliano Treré, “Big Data (a partir) do Sul: O começo de uma conversa necessária”, a pesquisadora destacou o peso da escolha das perspectivas acadêmicas, uma vez que elas conformam certas abordagens sobre a datificação.
Grande parte da crítica acadêmica e de sua perspectiva surgiu do ocidente e isso faz com que me pareça que há algo faltando. Nossa caixa de ferramentas teóricas e tecnológicas tem como captar as formas extremamente criativas e diversas que dependem de um certo universalismo digital que tenta assimilar as diversidades de vários contextos e passar longe das especificidades. Temos que mobilizar experiências que reconhecem a diversidade.
Foto: Bruno Cardoso/Lavits |