A pesquisadora e educadora Simone Browne, da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos, é presença confirmada no VI Simpósio Internacional LAVITS. Ela fará a abertura do evento, intitulada “Na Vigilância da Negritude: Arquivos de Resistência e Rebelião”, a ser realizada no dia 26 de junho, às 18h30, no auditório 2 (PAF 5), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. A mediação será feita pela pesquisadora Fernanda Bruno, membra da rede LAVITS e coordenadora do laboratório MediaLab, da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Browne faz parte do departamento de Estudos Africanos e Estudos da Diáspora Africana da Universidade do Texas e em sua obra mais recente, Dark Matters: On the Surveillance of Blackness, ela aborda a negritude como alvo das práticas de monitoramento, mostrando como, historicamente, as táticas de vigilância foram informadas pelas questões raciais, desde a escravidão. A pesquisadora demonstra que o controle é uma ferramenta tanto discursiva quanto material e o faz articulando teoria feminista negra, sociologia e estudos culturais.
Em recente entrevista para o The Yale Herald, Browne explica seu interesse pelos estudos de vigilância. “Vigilância é a condição da negritude nos Estados Unidos. Eu sempre me interessei por viagens e movimento, mas o 11 de setembro é quando eu passo a me interessar por tecnologia biométrica. Antes disso, eu estava olhando para imigração e deportação. Depois do 11 de setembro, comecei a examinar por que as fronteiras seriam mais seguras se tivéssemos passaportes, cartões de identificação e reconhecimento facial”, comenta.
Simone Browne oferece uma perspectiva crítica sobre a temática. Em Dark Matters, ela aponta para uma ausência de um olhar centrado nas questões raciais nos estudos de vigilância. Citando os trabalhos de Jeremy Bentham e Michel Foucault, cujas teorias foram base para a fundação desses estudos, ela reafirma a importância de suas teorias, mas também indica quais brechas elas apresentam quanto ao debate racial.
Em entrevista concedida para a organização Truthout, a pesquisadora segue denunciando esta lacuna. “Eu queria focar na vigilância como uma prática racial porque em muitos trabalhos ela não é adotada como tal. Quando uma prática de vigilância é executada em corpos racializados, essa é uma parte da racialização, então a racialização é um efeito e uma prática que se repete de muitas maneiras”, afirma.
As preocupações de Browne se encontram com os objetivos do VI Simpósio Internacional LAVITS – Assimetrias e (In)visibilidades: Vigilância, Gênero e Raça, que será realizado entre os dias 26 e 28 de junho, em Salvador (BA). Essa edição do Simpósio pretende contribuir para o enfrentamento desta brecha, levando em conta tanto as heranças históricas da relação entre vigilância, gênero e raça, quanto os seus desdobramentos contemporâneos. As atuais arquiteturas, dinâmicas e tecnologias de vigilância persistem sendo marcadas por uma forte assimetria, vigiando, controlando e punindo certos grupos e garantindo a segurança, o conforto e a mobilidade de outros.
Os avanços da biometria, da vigilância algorítmica, dos sistemas de reconhecimento facial, da captura e análise massiva de dados pessoais para a produção de perfis comportamentais e microtargeting, entre muitos outros exemplos, vêm reforçando as inquietações com a reprodução de desigualdades, preconceitos e discriminações. Lógicas de poder similares são reproduzidas nas cidades, no campo, no controle de fronteiras e no espaço informacional.
Saiba mais sobre o evento em: www.lavits.ihac.ufba.br/