Pesquisa aplicada em vigilância, extrativismo de dados, tecnopolítica e o desenvolvimento de uma agenda de pesquisa descolonial na pandemia pós-Covid-19

Coordenação:
Fernanda Bruno

A relação entre tecnologia, vigilância e colonialismo não é apenas histórica, mas recursiva. Longe de pertencer ao passado e às inovações que constituíram a Modernidade, o colonialismo se reinscreve de diferentes maneiras nas soluções tecnológicas e nos aparatos de vigilância e segurança que hoje integram a agenda neoliberal de governos e corporações em muitas partes do mundo. No Brasil e na América Latina, em especial, a condição colonial de laboratório para extração de recursos, testagem e difusão de tecnologias sem as devidas proteções jurídicas, econômicas, sociais, tecnopolíticas, ambientais etc. é atualizada por diferentes atores que atuam hoje nos mais diversos setores: entretenimento, serviços, saúde, educação, trabalho, mobilidade urbana, saneamento, segurança etc. Esta recursividade do colonialismo reinscreve também processos de violência, discriminação, exploração e expropriação que operam especialmente sobre territórios e populações vulnerabilizadas, especialmente negras/os, indígenas e mulheres. Desenvolvido pelo MediaLab.UFRJ e pela Rede Latino-Americana de Estudos em Vigilância, Tecnologia e Sociedade – LAVITS, o projeto se volta para as recentes inscrições do colonialismo no contexto latino-americano após a pandemia de Covid-19, focalizando o que estamos considerando amplamente como operações de extrativismo efetuadas por grandes corporações de tecnologia e/ou por atores públicos. Focalizaremos a extração de dados, de valor e de conhecimento a respeito de indivíduos, territórios e populações, considerando diferentes camadas: comportamental, cognitiva, psíquica, emocional, biométrica, sanitária, laboral, social e ambiental. Pretende-se construir uma agenda decolonial para a pesquisa, a formação e ação social sobre os impactos das operações extrativas das tecnologias de vigilância nos direitos e liberdades fundamentais. Esta agenda visa também fomentar saberes e práticas tecnopolíticas que operem a contrapelo das lógicas extrativistas.